segunda-feira, 5 de novembro de 2007

APENAS HUMANOS

Desde a infância somos estimulados pelos estereótipos dos desenhos animados. A idéia do super-homem permeia o imaginário da criança até seu último suspiro. De um lado, pais que sonham com filhos super-inteligentes, super-espertos, super-comportados, super-saudáveis e super-dotados. Do outro lado, a sociedade, que nesse caso pode ser comparada a um enorme monstro marinho, ou melhor, intergaláctico, que valoriza esses super seres. O que todos esquecem é que esses seres não são simples seres vivos, são, sobretudo, seres humanos.

Quando recebemos um elogio por alguma qualidade ou mérito, costumeiramente ouvimos frases do tipo: “Você é um anjo”. E mais uma vez somos forçosamente comparados a seres divinos. Perdoem-me, mas vou decepcioná-los. Ajudo um cego atravessar a rua sempre que posso, tenho religião definida: sou espírita praticante, tiro boas notas, no trabalho sou pró-ativa e solícita, meus amigos sempre pedem conselho, meus irmãos não cansam de dizer que me amam. Mas isso não me dá o diploma da Escola Superior de Anjos, Arcanjos e Querubins, quiçá de heroína.
Sou humana. Amo e odeio com uma velocidade maior que a da luz, faço imitações dos meus professores menos queridos sem nenhuma dor na consciência, já roubei doce de criancinha, já colei descaradamente e jurei de pé juntinho que era intriga da oposição. O meu hobby é reunir os amigos nos finais de semana para falar abobrinhas. Nada de papos intelectuais sobre aquecimento global, crise econômica ou as chances do Brasil na Copa de 2014. Adoro falar besteira.

De tanto exigirem comportamentos e idéias “politicamente corretas”, lotamos os consultórios psiquiátricos com crise de identidade. Não conseguimos ser do jeito que esperam que fossemos. A criptonita não me faz mal algum, combinada com uma cerveja geladinha até me deixa ligadona. Confesso que já cometi os sete pecados capitais, embora nunca tenha matado, em dias de TPM cometi crimes, imaginários, dignos de um serial killer, mais violentos que Tropa de Elite 1, 2 , 3, 4 e 5 dirigido pelo maníaco da Cantareira.
Por favor, àqueles que me amam não fiquem assustados nem se sintam culpados. Mas levei muito tempo, sentada no divã de meu analista, para me aceitar assim: um ser imperfeito em busca da tal da evolução. Então, pelo amor de Deus, quando quiserem me elogiar utilizem a mesma frase dos agentes do filme Matrix Reloaded: “Ele ainda é... Apenas humano”.

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